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Uma morte anunciada – Por Leonardo M. Barcelos

7 de dezembro de 2009

Uma morte anunciada – Por Leonardo M. Barcelos

O Futebol de botão vai acabar!!!
A constatação acima pode parecer apocalíptica ou até mesmo pessimista, mas é uma realidade. Dolorosa, por sinal, para os amantes de um jogo tão lúdico…
Nos últimos meses me peguei pensando no futuro do “esporte bretão de mesa”, como costumo chamá-lo, e não vi nada muito animador, pelo contrário, o vi como peça de museu, o que aliás já se tornou, ou como lembrança em mentes de velhos que pouco distinguem a realidade das ilusões…
As causas?
A era digital, o videogame, pensariam alguns…
Crianças amadurecendo mais cedo, interessadas em temas de adulto, pensariam outros…
Mas pra mim, a causa do fim do futebol de botão são os próprios botonistas!!!
Isso mesmo, os praticantes, os ditos “amantes” desse esporte que deixou de ser brincadeira para virar coisa séria, federada.
A profissionalização é o problema, então??? Não, de forma alguma.
A seriedade e o respeito com que os profissionais trataram o hoje chamado “Futebol de Mesa” foi louvável e, com toda certeza, foi o que deu novo gás ao esporte e, provavelmente, vai prolongar um pouco sua “vida”.
Mas, de novo digo, que o que vai matar o futebol de botão é o próprio botonista!!!
Eu jogo botão desde 1978, quando ganhei meus primeiros times. Tinha, então, 5 anos.
As lembranças mais remotas que tenho desta época são de montar meu “campo” no chão, nos tacos de madeira do apartamento onde morava. Na Copa de 1982, lembro-me de “organizar” meu 1º campeonato, utilizando a tabela da copa, encarte do saudoso álbum dos chicletes Ping-Pong.
Na adolescência, a brincadeira foi ficando um pouco mais séria, até que em 1990 nasceu a BFA. Daí pra frente, a história já é um pouco mais conhecida.
De 2003 para cá, abrimos a fronteira da nossa “entidade”, em busca de um maior intercâmbio com outros botonistas. Disputamos campeonatos abertos, conhecemos jogadores de outras “garagens”, fabricantes, colecionadores, enfim, saímos da “casca”…
Mas hoje, seis anos depois, estou fazendo o caminho oposto.
Após constatar que no “mundo do botão” a vaidade impera, que aquele time que eu tenho ninguém mais pode ter, que aquela foto do Bandeirante de Birigui de 1935 é ouro e eu não posso copiar pra você, que eu não posso te passar o telefone do cara que vende as lentes, que o que importa é o que eu tenho e dane-se o resto, que o que vale é a política da exclusão, de desprezar tudo que é diferente do que acredito, hoje eu decidi dar um passo atrás e voltar 10 anos no tempo, pro período em que eu amava jogar botão e fazer meus times… e só!!!
Durante este convívio fiz amigos, é verdade. Poucos, diga-se. Mas desta experiência o que me restou foi uma sensação de que o botonista, a fim de preservar o “eu”, vai matar o esporte, vai matar o “nós”. Terminará jogando sozinho, mas com um grande acervo de times e fotos. É Isso!!!
Viva a mediocridade!!! Viva o individualismo!!!
Não pretendo ser arauto de nada!!! Só quero passar para minha filha, para meu afilhado, a mesma paixão que eu e meus irmãos sentíamos na infância quando passávamos horas sobre uma tábua verde, a mesma paixão que sinto toda semana quando reunimos dez marmanjos após um dia estressante de trabalho…
E se você é um daqueles que cultivam o “nós”, a BFA está aberta para você praticar o melhor esporte do mundo!!!
Leonardo Marques Barcelos, 36 anos, é botonista a 31, colecionador e cultiva o “nós”