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A BFA, pela BFA – Por Edson F. Lopes

22 de março de 2009

A BFA, pela BFA – Por Edson F. Lopes

As razões de sucesso da BFA

Para os integrantes mais recentes e outros curiosos da história da BFA, existem muitos relatos para serem escritos. Então, na minha primeira coluna, resolvi escrever sobre porque eu acho que a BFA teve e tem muito sucesso… e, provavelmente, continuará tendo por muito tempo.
Eu fui listando as razões e elaborando um pouco sobre o meu ponto de vista, acredito que seja muito próximo do estatuto da BFA, que eu ainda não li… risos…
Mas baseado no que está escrito abaixo, será que eu preciso?

1ª – Paixão pelo futebol profissional
Todos os técnicos que participaram ao menos por uma temporada inteira na BFA (os participantes de torneios esporádicos não contam) sempre tiveram uma devoção às vezes até exagerada pelo futebol profissional, mas, infelizmente, não tiveram a técnica, sorte ou a decisão que desde crianças eles iriam priorizar uma carreira no futebol real, sobre tudo. Dos integrantes atuais e antigos que conheço melhor, isso se aplica a todos. Qual de nós já não “passou do limite” normal na paixão pelo seu time de coração (o do futebol profissional) pelo menos uma dúzia de vezes? Nem é necessário elaborar muito sobre esse tópico, todos os técnicos que jogaram na BFA entendem esse requisito.

2ª – Odeia as contínuas falcatruas do futebol profissional
Para muitos, é impossível entender porque esses caras passam dias, noites e fins de semana jogando partidas, disputando campeonatos e revivendo momentos sublimes e de glórias na BFA e seu futebol de mesa, quando poderiam canalizar essa energia para participar de torcidas organizadas ou estarem ligados aos seus clubes de coração de alguma outra forma. A verdade é que, apesar de todas as gozações sobre Leonardo Teixeira, Eduardo Viana e outros dirigentes que sempre foram feitas, todos acham isso ridículo e inaceitável. Para nós da BFA, é inadmissível aceitar o que acontece no futebol, começando por cartolas, passando por empresários, torcidas organizadas e continuando em muitos jogadores… acredito que todos os integrantes permanentes da BFA tem um pouco desse repúdio ao futebol profissional, mas nós não podemos resolver isso. É a tal história do mal necessário…
Para colocar essa paixão na mesa foram criados Paulinho Criciúma, Roberto Dinamite, Paulo Rossi, Lothar Matthaüs e tantos outros ídolos eternos na BFA. Esses jogadores, peças de acrílico com cores e brilhos (alguns já estão até meio ofuscados depois de tantas temporadas), são em geral o ideal que nós imaginávamos no futebol real, mas como infelizmente não é possível chegar lá, está aí a BFA pra resolver o problema.

3ª – As equipes
De nada adiantaria haver as razões 1 e 2, se não houvesse alguma forma de canalizar essa energia positiva em alguns botões, praticamente transformados em deuses. As histórias dos times do Rio sendo as mais tradicionais equipes da liga é um ótimo exemplo disso. Na primeira Taça Brasil, o Léo tinha preferência pelo Flamengo, o Duda pelo Santos, o Caco pela Portuguesa e eu pelo Internacional (quase ou todos os times foram sorteados, não me lembro, acho que tô ficando velho… risos). Desses, o Flamengo foi o único que foi longe no torneio. E é claro que houve a fatídica final entre Botafogo e Fluminense. Nesse campeonato é que surgiram as paixões do Léo pelo Botafogo, do Duda pelo Vasco e a minha pelo Fluminense, que continuam até hoje. E como eu tomei aquele gol a 8 segundos do fim, fui indiretamente o responsável pela criação do Botafogo na Bottons. Na época não existiam os times eternos, mas como todos tinham direito de escolher uma equipe, naturalmente os times prediletos sempre acabavam nessa escolha. Como os técnicos mais recentes não tem a história pra se guiar e respeitar esse atributo original, times eternos foram a solução.
É claro que os técnicos são importantes e os responsáveis pelas equipes, mas, na BFA, o histórico é medido principalmente entre equipes e na tradição que elas possuem.

4ª – Aprecia a organização dos campeonatos e respeita a história da entidade
Desde a fundação da BFA, eu diria que até antes dela, o planejamento sempre foi fundamental. Tanto o Léo quanto eu, que fomos os idealizadores da idéia naquela fatídica viagem de onibus pra Leopoldina, tínhamos sempre organização, históricos e resultados das nossas equipes, mesmo antes da BFA. Seria legal se o Léo colocasse algumas tabelas, histórico de times e as capas das pastas originais da BFA no site para que os que estejam lendo vejam. Eu e o Léo, ele muito mais que eu, gastávamos muito tempo além do que as partidas em si pra criar essa história na raça (papel e caneta)… alguns programas de computador utilizados na época, hoje, de tão arcaicos, nem existem mais. Por isso é que hoje você pode ver esses resultados no setor de estatísticas. Originalmente eu era o criador de tabelas, fórmulas de campeonatos, que hoje são feitos de uma forma quase profissional… dá gosto de ver…
Outro quesito importante desde o princípio foi o comparecimento às rodadas. Atrasos e não comparecimentos são tolerados, mas existe um limite, que acaba sendo relativamente simples de definir: se o campeonato está sendo paralizado pela não presença de um técnico, seus times são transferidos para outros jogadores e, na persistência, o técnico é eliminado pela organização. Daí a importância fundamental dos quesitos 1 a 3. Se esses pré-requisitos não são atendidos, fica difícil entender o por quê da brincadeira e o transtorno que as faltas acarretam.

5º – Resolução de conflitos
Esse foi um dos problemas principais no início da BFA. Foi gol / não foi; é lateral / não é; Encostou na bola/ não encostou; e por aí vai… Talvez, por eu estar jogando contra os 3 irmãos, em algumas oportunidades eu acredito que eu tenha sido “garfado”… risos… na decisão de algumas dúvidas (provavelmente não). Eu, inclusive, parei de jogar por um tempo no início da BFA, sendo esse um dos motivos. Existem muitas soluções plausíveis para esse problema e várias foram tentadas, até que o Léo e o Duda criaram um sistema infalível – basta tirar um simples “par ou ímpar”. Se tem alguma dúvida sobre uma jogada, o par ou ímpar, ou, muitas vezes, um “jogo de dado”, resolve a questão. É claro que a honestidade é um critério que precede o início da participação de qualquer pessoa nos torneios da BFA, mas o par ou ímpar é uma solução simples, eficiente e democrática sobre a dúvida em lances.

6º – Integrantes chave
Como tudo na vida, existem pessoas que foram responsáveis pelo sucesso da BFA. Abaixo alguns deles e as lembranças de suas contribuições:
Leonardo: Nem é necessário dizer que o Léo é o “dono da BFA”. Ele é o artista confeccionando times, guardando arquivos e incentivando outros a participar. Sem ele a BFA certamente nunca teria existido ou não teria durado mais do que 3 anos. Acima de tudo, sua personalidade democrática sempre criou oportunidades para que outras pessoas pudessem jogar e se associar à marca e, em algumas oportunidades, utilizou a sua posição de líder e responsável, para que a BFA não embarcasse em alguma mudança que comprometesse o ideal da liga. É simplesmente a razão porque ela ainda existe.
Duda: Ele segurou a bronca quando todos os outros abandonaram o barco. Em duas ocasiões a BFA se resumiu a um total de 2 técnicos (Léo e Duda). Apesar de nessa época ele ter sido o saco de pancadas do Léo (muitos risos), ele continuou firme e depois de algum tempo se transformou no “Caboclo Trofeleiro” e “Papa Títulos” que todos conhecem hoje. Apesar de nunca ter tido a paixão pela confecção de times, criação de tabelas ou na área estatística (o cara só queria saber de contar os gols do Roberto Dinamite), sempre compareceu e jogou todos os campeonatos. Vide motivos 1 a 4.
Outros integrantes importantes em alguns períodos da BFA:
Edson: Contribuiu com a organização de tabelas e na área estatística, além de ser um dos idealizadores/fundadores.
Eduardo: Talvez tenha participado na época em que a BFA foi mais equilibrada… vide as imprevisíveis equipes campeãs dos campeonatos durante o tempo que ele jogou continuamente.
Klécio: Com sua presença, foi finalmente possível aumentar o número de botonistas para mais de 5 ou 6 jogadores permanentes.
Dadá: O novo “Mr. Chip”, meu sucessor na computação e área de tabelas. Esse aí foi bem treinado… risos…

7º – Não ser um clube federado
Originalmente, uma das idéias sobre a BFA era a transformação em um clube oficial, para participar dos campeonatos organizados pela Federação Paulista de Futebol de Mesa. Com o passar do tempo, campeonatos e histórias, ficou decidido que era imprescindível conviver com as equipes e realizar campeonatos entre elas, o que inviabilizou totalmente a entrada em competições organizadas pela FPFM. Além disso, uma das razões durante toda a existência da BFA sempre foi a confraternização. É simplesmente impossível participar dos torneios da FPFM e ter o espírito que a Bottons tem. Quem poderia imaginar um jogo Itumbiara vs. XV de Jaú na terceirona e ter que seguir as regras, não falar e não encontrar algum outro modo pra se distrair durante a execução da partida? Como a gente poderia misturar os jogos com as pausas pra jogar conversa fora, pizzas, churrascos e todas as outras atividades que também são parte imprescindível da BFA?
É claro que existem momentos de tensão durante competições, especialmente quando se aproximam as finais e a palheta “treme”, mas somente esses momentos são muito pouco pra quem doou tanto tempo e energia para a causa da BFA.
Ainda assim, a BFA participou de algumas competições externas e provavelmente continuará participando, mas pelas recentes aquisições de técnicos “ex-federados”, a BFA tem um charme que é quase impossível de igualar, mesclando competição com amizade e alegria.

8º – Portas abertas para outros técnicos
Em algumas competições, a BFA sempre convidou muitos amigos para participar. Em geral, as Copas do Mundo e Taças Geraldo Décourt foram abertas a outros botonistas praticantes e, a outros, nem tanto. A confraternização dos participantes durante esses torneios é sempre uma das melhores memórias que eu tenho dos campeonatos que participei. É claro que quando os torneios se afunilam, os times tradicionais e seus técnicos geralmente prevalecem. No último grande evento da BFA, a Copa de 2006, eu tive o prazer de ver o meu pai jogar depois de muitos e muitos anos… É claro que ele foi um dos sacos de pancada do torneio, mas pra mim, o que mais marcou naquele dia foi quando ele fez o seu único gol. O jogo já estava decidido pelo adversário a muito, mas naquele momento, o meu pai gritou como se fosse o gol do campeonato. Muitos sorriram, outros mandaram “High fives”. Pra mim aquele momento valeu como uma lembrança do que é ser feliz. Se fosse um evento da Federação, provavelmente ele seria eliminado do torneio. Mas no ambiente descontraído em que o torneio foi executado, foi apenas mais um dos momentos pra se lembrar…

9º – Ambiente durante os jogos
Só pelas fotos da Bottons Arena já dá pra perceber que ela não tem o caráter de clube. A decoração, pôsteres e tudo o mais, cria essa mescla entre local de jogar botão e “templo”. Vi em muitos outros sites amadores sobre o ato de “jogar botão” essa mesma atmosfera, nos locais que o pessoal chama de “garagem”. É interessante contrastar esse tipo de ambiente com o de competições. Será que vale a pena se estressar tanto, se controlar tanto para participar de uma competição em que não existe um profissionalismo total? (eu menciono profissionalismo como um meio de se sustentar). Os risos, gozações por um gol perdido, aquela furada do atacante, o chute errado… as intermináveis promessas do tal “Criciúma” e todos os passaportes que ele falsificou… Eu, particularmente, acho que não da pra deixar esse item de lado, especialmente porque ninguém vai resolver a miséria do mundo jogando botão. Existem momentos tensos nos jogos, é claro, e eles são em geral respeitados, mas tudo tem um limite.

E, certamente, existem outros motivos pra participar da liga que eu não descrevi acima. Se você aguentou o texto até agora, acho que deve dar uma paradinha lá pela ZN e falar com um dos técnicos ativos da BFA…
Prometo ser mais breve nas próximas histórias, mas eu achei muito importante começar por essa…

Edson Falcão Lopes, o Lothar Matthaüs, é fundador da BFA e “vive” a liga como ninguém
Hoje mora na Califórnia, USA, e acompanha os campeonatos à distância, mas sempre bate uma bolinha quando de passagem por terras tupiniquins…